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sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

A IMPORTÂNCIA DO CUIDAR E EDUCAR NA CRECHE OU NA ESCOLA INFANTIL


As conquistas legais no campo da educação da criança pequena, trazidas pela Constituição Federal de 1988, pelo ECA, pela nova LDB etc. trouxeram também consigo o debate em torno da divisão cuidado e educação, na perspectiva da sua integração.
Podemos dizer que por muito tempo a criança passou despercebida sendo incorporada à sociedade como um “adulto em miniatura”.
 Ao longo da história a criança foi sendo percebida como um ser diferente com características próprias que exigia um outro olhar de “ser inacabado”, a partir do século XVIII, no ocidente, Rousseau, reivindica a especificidade infantil, com características e natureza própria que devem ser desenvolvidas (KISHIMOTO, 2005).

Mas não há um conceito universal de criança, pois, cada cultura tem sua maneira própria de ver e cuidar da criança.

No século XIX, surgem pensadores como Fröebel, que valorizava as histórias, mitos, lendas, contos de fada, percebendo que as crianças usam símbolos em suas brincadeiras, introduziu o brincar para educar, sendo responsável pelo uso do brinquedo e do brincar no Jardim de Infância.

Antigamente, a escola de educação infantil tinha uma conotação assistencial, onde as crianças ali passavam o dia todo para que seus pais pudessem trabalhar. Mas a concepção de criança e a forma de atendimento a ela dispensado também vêm sofrendo mudanças significativas.           

Podemos dizer que historicamente creche e pré-escola se constituíram em dois campos diferentes de atuação.
Enquanto a pré-escola desde a sua origem evidencia um caráter educacional, de preparação para a escola regular, a trajetória da creche nos mostra que o assistencialismo foi presença marcante em toda a sua história.
Durante muito tempo foi uma instituição para abrigar e salvar crianças (pobres) cujas famílias não possuíam estrutura para fazê-lo. Assim, a maior preocupação das propostas presentes nas creches era com a higiene, considerada extremamente precária entre as camadas populares, e com a saúde, tendo em vista o altíssimo grau de mortalidade infantil.
A creche foi também durante muito tempo concebido como substituta materna, ou seja, como uma instituição que acolhia crianças enquanto suas mães trabalhavam fora de casa.
É possível afirmar que no início o cuidar e o educar estiveram integrados, pois as instituições acolhiam as crianças, e durante o tempo em que ali permaneciam eram cuidadas e educadas, em complementação com suas famílias.
Não havia uma rígida separação entre o que era responsabilidade da instituição e da família.
Num segundo período, que se pode denominar de pós-guerra, marcado pela guerra fria, o mundo divide-se em dois grandes blocos.
De um lado estão os países chamados de “socialistas”, liderados pela ex-URSS e de outro os capitalistas, liderados pelos EUA.
 Enquanto o bloco “socialista” atuava no sentido de assumir a educação da criança desde a mais tenra idade, pois a concepção predominante era a de amor e obediência ao Estado, portanto as crianças deveriam ser educadas por aquela instância, chegando a privar a família do cuidado, educação, afeto aos filhos; os Estados Unidos, ao contrário, adotaram a postura de isenção, de desobrigação para com a criança pequena, considerando-a como responsabilidade exclusiva da família.
A preocupação desse Estado seria com a escolarização e, portanto, investe pesado na construção de pré-escolas, com o intuito de preparar as crianças para a escola regular e conseqüentemente evitar o fracasso escolar.
A partir desse momento, pelo menos no Brasil, que acompanha a concepção norte-americana, percebe-se claramente uma cisão entre o cuidar, que passa a ser visto como responsabilidade exclusiva.
Já nas décadas de 60 e 70, o advento da revolução cultural, dos movimentos sociais, dos ideais de liberdade, de vida em comunidade, acaba também por influenciar o comportamento educacional.
 Nesse período a mulher passa a ocupar maior espaço na esfera pública, a questionar sobre o seu papel – exclusivo – no cuidado e educação das crianças e começa a propor responsabilidade social compartilhada, utilizando como slogan “o filho não é só da mãe”.
 Essa mobilização que envolve donas de casa, feministas, clubes de mães, sociedade amigos de bairro e partidos políticos acaba por impulsionar o movimento de luta por creches.
Não mais como mal necessário e, sim, como serviço de qualidade, como instituição de direito e de educação das crianças e das mães.
A década de 80 é marcada pela movimentação de profissionais ligados à pesquisa e ao atendimento à infância que discutem a creche e pré-escola no mesmo campo temático, visando o pleno desenvolvimento da criança.
Finalmente em 1988 a Constituição Federal reconhece como direito da criança e dever do Estado o acesso à educação em creche e pré-escola.

Nesse momento histórico percebe-se que o cuidar e o educar volta a se integrar, compreendendo-se a instituição que acolhe a criança, quer seja a creche, quer ser a pré-escola, o faz na perspectiva do direito e não mais do “favor”; e que família e instituição têm que ser parceiras e atuar de forma que uma seja complementar à outra.

Em 1989 assiste-se ao colapso do modelo “socialista” e conseqüentemente a enfraquecimento dos programas sociais e fortalecimento do mercado.
O início da globalização, cuja marca é os programas de políticas compensatórias.
A globalização estimula a competição, trazendo como conseqüência, maior desigualdade social, mais desemprego e desamparo que resultam em acúmulo de funções, aumento de separações e conseqüentemente mais famílias sendo chefiadas por mulheres; além de maior empobrecimento da classe trabalhadora como um todo.
Nessa perspectiva, o que se percebe é que, com a retirada dos direitos sociais, as famílias, em particular, as mulheres, se vêem despidas do direito de recorrer às instituições de apoio, não lhe restando alternativa senão recorrer, novamente, às mães crecheiras (“mercenárias”), ou outro artifício (até mesmo deixar as crianças sozinhas em casa) a fim de saírem para obter o sustento familiar.
A segmentação do atendimento, pois as creches que atendiam crianças de zero a seis anos passam a se responsabilizar especificamente pela faixa etária de zero a três anos, não raras vezes em período parcial.
Crianças de quatro a seis anos passam a ser atendidas prioritariamente em período parcial, priorizando-se os mais velhos, com vistas a absorver os de seis anos no ensino fundamental (sem adequação do projeto pedagógico).
Perda dos recursos anteriormente destinados à creche, via Secretaria de Ação Social;
Redução ou paralisação da ampliação do atendimento público à criança de zero a três anos.
Assim, assiste novamente à cisão entre o cuidar e educar. O cuidar passa a ser novamente exclusividade do âmbito privado, enquanto o educar é visto como responsabilidade do poder público, de escolarização,
Essa é uma discussão que deve ser enfrentada porque não são raros os estudos que apontam para o fim da dicotomia entre cuidar/educar, tendo em vista a integração das creches nas redes de ensino, como por exemplo, a dissertação de mestrado de Marcon (1999)
 A creche como instituição educacional: um estudo documental – que afirma a não existência da oposição entre cuidado e educação, uma vez que tal cisão não foi observada na creche por ele pesquisada.
Nesse sentido, considera-se importante salientar que não bastam às mudanças formais, a pura e simples passagem de uma rede para outra, mas tornam-se necessárias mudanças de ordem internas, de concepção de atendimento e, principalmente, de políticas de atendimento.
Hoje, mesmo após a transição das creches para o sistema de ensino, ainda se podem ver diferenças marcantes entre a creche e a pré-escola e entre a profissional que atua na creche e aquela que atua na pré-escola.
Isso posto, observa-se que ao invés de caminharmos para a integração, na prática, percebe-se uma tendência no sentido de reforçar a dicotomia cuidar, educar, corpo, mente.
Enquanto profissionais leigos ocupam-se do corpo da criança, profissionais habilitados ocupam-se da mente (HADDAD, 2003).
Em entrevista com pedagogas na área de educação infantil o cuidar e educar na educação infantil e como essas ações deve ser trabalhado, podemos colher os seguintes conhecimentos.
A pedagoga Sandra nos relata:
Quando nos propomos a trabalhar com crianças bem pequenas, precisamos ter como princípio, conhecer seus interesses e necessidades. E isso significa saber verdadeiramente quem são saber um pouco da história de cada uma, conhecer a família, as características de sua faixa etária e a fase de desenvolvimento em que se encontra, além de considerar o tempo que permanecem na escola.
Só assim poderemos compreender quais são as reais possibilidades dessas crianças, lembrando que, para elas, a educação infantil é a porta de entrada para uma vida social mais ampla, longe do ambiente familiar.

A pedagoga Teresinha de Melo.
 Relata.
Cuidar e educar é impregnar a ação pedagógica de consciência, estabelecendo uma visão integrada do desenvolvimento da criança com base em concepções que respeitem a diversidade, o momento e a realidade peculiares à infância.
Assim, o professor deve estar em permanente estado de observação e vigilância para que não transforme as ações em rotinas mecanizadas, guiadas por regras. Consciência é a ferramenta de sua prática, que embasa teoricamente, inova tanto a ação quanto à própria teoria.
Cuidar e educar implica reconhecer que o desenvolvimento, a construção dos saberes, a constituição do ser não ocorre em momentos e compartimentados. A criança é um ser completo, tendo sua interação social e construção como ser humano permanentemente estabelecido em tempo integral.
Cuidar e educar significa compreender que o espaço/tempo em que a criança vive exige seu esforço particular e a mediação dos adultos como forma de proporcionar ambientes que estimulem a curiosidade com consciência e responsabilidade.

A professora Ana Maria
 Relata-nos que a ação conjunta dos professores e demais profissionais envolvidos na escola é essencial para garantir que o cuidar e o educar aconteçam de forma integrada. Essa atitude deve ser contemplada desde o planejamento educacional até a realização das atividades em si.
O professor percebe que, desde bem pequenas, as crianças apresentam atitudes de interesse em descobrir o mundo que as cerca, elas são curiosas e querem respostas a seus porquês, o trabalho do educador é estimular e orientar as experiências por elas vividas e trazidas de casa, para que, no seu dia-a-dia, elas possam construir seu próprio conhecimento.



 O professor Edson pedagogo.
O educador deve conhecer e considerar as singularidades das crianças de diferentes idades, assim como a diversidade de hábitos, costumes, valores, crenças, etnias das crianças com as quais trabalha respeitando suas diferenças e ampliando suas pautas de socialização.
 O educador é o mediador entre crianças e os objetos de conhecimento, organizando e propiciando espaços e situações de aprendizagens que articulem os recursos e capacidades afetivas, emocionais, sociais e cognitivas de cada criança.
 Aspectos inerentes à educação infantil – saúde, afeto, segurança, interação, alimentação, estimulação, brincadeira, entre outros – devem integrar o cuidar/educar de forma dinâmica.
 Assim, a saúde está presente na hora da higiene, na escolha do alimento adequado e na discussão. O afeto perpassa todas as ações, demonstrando para a criança, através da própria ação, como estabelecer vínculos afetivos nas relações sociais.  
A brincadeira deve permear todas as ações como jogo simbólico, através do qual a criança compreende a si e ao outro, tendo todo seu corpo e alma interagindo de forma a construir a si, ao outro e ao meio.
Para todos esses aspectos é possível estabelecer elos, interações, relações desde que a ação pedagógica esteja em permanente e total vigilância, fazendo do cuidar,educar presença constante na realidade dos espaços de educação infantil.
O agir pedagógico deve atender às reais necessidades das crianças, deve ser criativo, flexível, atendendo à individualidade e ao coletivo. Cuidar e educar, pensar sobre isto implica reinventar o espaço de salas para que neles se dêem as interações do sujeito com o mundo físico e social, oportunizando-lhe vivências e situações de troca de ponto de vista, tomadas de decisões, sendo promovido, assim, sua autonomia e cooperação, tão importantes para a formação de um novo cidadão.

Portanto a meu ver enquanto crianças menores de quatro anos são vistas apenas como corpo que requer cuidados físicos, as de quatro em diante são vistas somente como seres cognitivos, que precisam aprender coisas que lhe serão úteis no mundo letrado.
            Hoje, o brincar se faz presente no contexto educacional, principalmente na educação infantil, é visto como forma de desenvolver as habilidades motoras, afetivo social e cognitivo, proporcionando à criança oportunidade de vivenciar plenamente sua infância.
 Assim, a criança é considerara em sua totalidade garantindo-lhe o respeito as suas necessidades, ao dar-lhe oportunidade de aprendizagem em diferentes situações no seu cotidiano escolar.
            O brincar quando introduzido na escola, para a criança não deve perder a ludicidade, mas para o educador não deve ser dado somente com o intuito de diversão, este precisa ter clareza que através da brincadeira a criança cria, constrói e atribui determinados valores conceituais que serão de suma importância para o seu desenvolvimento social e individual.
Entretanto, nem bem as políticas de atendimento haviam sido implementadas, as mudanças haviam chegado às bases, o programa de formação em serviço havia sido estruturado e novas mudanças despontaram no cenário global.
 Portanto, aquelas famílias que não podem cuidar de seus filhos, encontram nas creches um paliativo, um local provisório para “guardar” os pequenos até que possam fazê-lo. Nesse período a creche fica carregada do estigma de mal necessário, depósito, e a família que precisa recorrer a este serviço, não o faz de forma confortável, ao contrário, sente-se incapaz e culpada. 
As crianças perdem o que há de melhor na infância, que é o direito de brincar, fantasiar, enfim, ser feliz.









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